Na mais recente pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas, divulgada hoje (28), um dado ressoa alto entre os eleitores do Estado: 65,4% desaprovam a administração do presidente Lula. Em contraste, o governador Ratinho Junior é aprovado por 85% da população. A diferença, mais que política, revela uma desconexão afetiva e simbólica entre o eleitor paranaense e o governo federal.
Os números da pesquisa, realizada com 1.550 eleitores em 62 municípios do Paraná, indicam que a desaprovação ao presidente não é pontual — ela vem se mantendo elevada desde outubro de 2023, com ligeiras oscilações, mas sem romper a barreira do descrédito. Já a administração estadual apresenta trajetória oposta: aprovada amplamente em todos os segmentos sociais, idades e níveis de escolaridade.
Em um cenário socialmente fragmentado, o comportamento do eleitor não parece apenas racional. Ele também é guiado por afetos, memórias e expectativas. A política se mistura com a fé, com o cotidiano e com a frustração acumulada. É significativo, por exemplo, que entre os entrevistados que participaram de cerimônias religiosas recentemente, a aprovação de Lula caia para 27,7%, enquanto entre os que não participaram, sobe para 35,5%. Pequenas variações, mas que revelam relações profundas entre valores pessoais e julgamentos políticos.
Há algo de humano na forma como a esperança se transforma em cansaço. Entre os mais escolarizados — os que cursaram ensino superior — apenas 26% aprovam o presidente, enquanto entre os que têm apenas ensino fundamental, a aprovação sobe para 38,1%. O mesmo se repete quando se observa a situação ocupacional: quem está fora da população economicamente ativa (como aposentados e donas de casa) mostra mais aprovação (38,4%) do que quem está inserido no mercado de trabalho (27,2%).
Esses números podem sugerir que a distância entre promessas e realidade pesa mais sobre os ombros de quem ainda precisa garantir o sustento. Já os mais velhos, com mais de 60 anos, são o grupo que mais aprova o presidente (37,5%), como quem relembra tempos passados com alguma saudade ou indulgência.
A pesquisa não traz depoimentos pessoais, mas os percentuais falam por si. O alto índice de rejeição a Lula entre homens (69,5%) contrasta com o das mulheres (61,6%), e mesmo entre os jovens, tradicionalmente mais abertos à mudança, a aprovação não ultrapassa os 34%. Entre os que cursaram ensino superior, mais de 70% reprovam o governo.
O dado mais simbólico talvez seja este: ao longo de quase dois anos de levantamento contínuo, a avaliação da administração federal oscilou pouco. O sentimento parece não ser de decepção recente, mas de distanciamento sustentado.
O que esses números pedem, antes de tudo, é escuta. Eles não são apenas indicadores de desempenho, mas sinais de que parte da população se sente alheia ao projeto político em curso. O silêncio — aquele que responde “não sabe ou não opinou” — também fala. E talvez seja ele que mais mereça atenção.
O Paraná, com suas igrejas cheias, cidades médias conservadoras e campo economicamente ativo, oferece um retrato sensível do Brasil que resiste à polarização superficial, mas guarda feridas mais profundas. Escutar esse eleitor é mais do que estratégia eleitoral. É uma chance de reconexão.
Porque por trás de cada reprovação, há alguém esperando ser visto. E talvez, mais do que concordar ou discordar, seja preciso primeiro reconhecer essa espera.
Informações da pesquisa
- Coleta de dados realizada através de entrevistas pessoais, entre os dias 23 e 27 de agosto de 2025.
- Abrangência: Estado do Paraná.
- Para a realização desta pesquisa foi utilizada uma amostra de 1550 eleitores em 62 municípios. Tal amostra representativa do Estado do Paraná atinge um grau de confiança de 95,0% para uma margem estimada de erro de aproximadamente 2,5 pontos percentuais para os resultados gerais.


