Homem que passou mais de 15 anos na cadeia tenta fugir da delegacia após ser preso com remédios falsos


R. J. C. F., de 41 anos, foi protagonista de uma tentativa de fuga nesta terça-feira (26), após ser detido em uma operação que desarticulou uma associação criminosa dedicada à venda de medicamentos falsificados e cigarros eletrônicos em Curitiba. O homem, que esteve preso por 17 anos nos últimos tempos, foi capturado juntamente com dois comparsas.

A ação policial foi conduzida pela Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (Decrisa), no bairro São Francisco. No local, que não dispõe de celas, o homem permaneceu algemado a uma cadeira enquanto aguardava para ser ouvido formalmente. Durante esse período, tentou escapar, chegando a danificar o dispositivo de contenção.

Segundo a delegada Aline Manzzato, o detido possui um histórico extenso de crimes, incluindo tráfico de drogas, roubo, receptação de veículo roubado, ameaças a agentes penitenciários e participação em tentativas de homicídio. “Quando chegamos na identificação desse autor, a gente verificou que ele já tinha muitas passagens por diversos crimes e agora tinha migrado para esse tipo de crime. Chamou muito a atenção que um homem que, dos 18 até os 41 anos, ficou só seis anos fora da cadeia. Há dois anos a gente já estava investigando”, afirmou a delegada. O criminoso já fugiu da prisão em duas ocasiões anteriores.

As investigações começaram após denúncias de que o suspeito criava grupos de WhatsApp para comercializar medicamentos voltados à estética, como canetas emagrecedoras, toxina botulínica e anabolizantes. Considerado líder do grupo, o homem foi localizado após diligências na Vara de Execução Penal, órgão onde havia se apresentado fornecendo endereço falso no bairro Sítio Cercado. As apurações indicaram que ele não residia em Curitiba há mais de cinco meses. Com o suspeito, foi encontrado um comprovante de pagamento de pedágio na praça de Barueri (SP), datado de 26 de agosto, além de ter sido autuado por falsidade ideológica.

“Ele era tão ardiloso e tão sem filtro que ia até a VEP, a Vara de Execução Penal, para informar o endereço dele e nós verificamos que o endereço que ele estava dando era falso. A gente conseguiu levantar outros endereços dele e chegamos até o local onde a gente apreendeu essa quantidade grande de produtos ilícitos. A maioria é vaper”, destacou a delegada.

Outros dois homens, comparsas de do acusado, foram presos no bairro Pinheirinho durante cumprimento de mandado de busca e apreensão. No local, foram apreendidos 820 cigarros eletrônicos avaliados em cerca de R$ 70 mil, anabolizante oxandrolona 5mg, munições calibre .635 e .38, máquinas de cartão e a Carteira Nacional de Habilitação do líder do grupo.

A associação criminosa comercializava toxina botulínica, semaglutida (Ozempic), enzimas injetáveis, lipostabil (proibido pela Anvisa), canabidiol, oximetolona e sibutramina sem registro na Anvisa, inclusive com data de validade vencida. Um dos produtos para emagrecimento era vendido por até R$ 5 mil, segundo a polícia.

O trio responderá por associação criminosa armada, posse de munição de uso permitido, falsificação de medicação e receptação. A Polícia Civil investiga ainda o possível envolvimento de uma quarta pessoa no esquema.

Defesa contesta acusações

Em nota enviada à Banda B, o advogado de defesa dos acusados afirmou que a investigação está em fase inicial e que as declarações da autoridade policial não refletem a realidade dos fatos. Segundo Valter Ribeiro Junior, as menções aos crimes atribuídos aos suspeitos “têm o claro objetivo de valorizar o trabalho investigativo”.

O advogado destacou ainda que, com o aprofundamento das investigações, será possível demonstrar a real extensão dos fatos, evitando julgamentos precipitados ou baseados apenas em versões unilaterais e sensacionalistas. “Com relação aos fatos descritos nos artigos 273, 288 e 180 do Código Penal Brasileiro, não há qualquer elemento concreto a consubstanciar e embasar uma denúncia, menos ainda uma condenação, sobretudo porque confia na capacidade e qualificação do Ministério Público do Estado”, conclui o comunicado.