Os santistas que foram à Vila Belmiro e os milhares que não puderam ir viveram um pesadelo na noite de quarta-feira (6). Depois de flertar com o rebaixamento em dois anos seguidos, o Santos não encontrou forças para escapar da queda e vai disputar a segunda divisão nacional pela primeira vez em sua história.
A queda à Série B foi consumada com a derrota por 2 a 1 para o Fortaleza na Vila Belmiro e as vitórias de Vasco e Bahia, que estavam atrás do Santos na tabela, mas ultrapassaram a equipe paulista com seus triunfos em casa.
Em 2022 o Santos perdeu Pelé, o seu ídolo máximo, o maior jogador de todos os tempos. Em 2023, viveu seu mais profundo calvário. Como resultado, em 2024, não vai disputar a Série A nem a Copa do Brasil.
Depois de uma pequena demonstração de fôlego na reta final do Brasileirão, o Santos entrou em espiral de queda ao amargar cinco partidas sem ganhar. Na Vila Belmiro, fez mais um jogo ruim. Lutou muito, é verdade, mas não há como mostrar futebol quem não tem.
O JOGO DA QUEDA
Incapaz de ser um conjunto competitivo, o Santos, dá pra dizer, se esforçou para ser rebaixado. Na partida derradeira, foram muitos os lances que irritaram os santistas nas arquibancadas. Nem mesmo o baleião, mascote que tentava animar a torcida, escapou da ira dos sofridos santistas. “Some daí, não serve pra nada”, gritou um zangado torcedor.
A revolta dos santistas aumentava a cada lance de ataque malcabado. Soteldo e Marcos Leonardo eram um oásis em meio a atletas esforçados, mas com poucos recursos – ou nenhum, em alguns casos. Jean Lucas talvez tenha sido protagonista do lance que resume o calvário do Santos. De volta da Europa neste ano, o meio-campista perdeu de forma burlesca um gol na pequena área. Livre, quando foi chutar, não acertou a bola, e sim o chão.
Um ex-jogador do Santos fez a raiva dos santista subir de nível. Marinho, vaiado e xingado desde que pisou no gramado, deu o troco. A zaga esqueceu que o atacante estava no sozinho no ataque e em posição legal e deixou o atleta avançar em direção a João Paulo e balançar as redes.
Não bastasse a provocação dos rivais e todo o sofrimento causado pelo Santos, os torcedores tiveram de engolir uma provocação do ex-santista. Marinho ordenou que a torcida se calasse e pôs os dedos indicadores nas têmporas. Talvez atônitos, sem força para reagir, cansados de tamanho calvário, eles aquiesceram.
O Santos foi tão incompetente que a única alegria ao santista quem deu no primeiro tempo foi o Atlético-MG, quando empatou o seu jogo com o Bahia. “Nós temos que torcer para o Atlético, não tem jeito”, lamentou-se um torcedor sem camisa, descalço e zangado sentado em uma das cadeiras centrais. Ele puxava o cabelo e rezava, com seus dois terços – um no pescoço, outro no punho – ao passo que os minutos transcorriam e a tensão aumentava.
Se era ruim o cenário, tornou-se um pesadelo quando, com o primeiro tempo encerrado na Vila Belmiro, chegou a notícia de que o Bahia havia marcado o segundo gol em Salvador.
Fora melhores as notícias no segundo tempo. O torcedor pôde sorrir quando Messias fez, de cabeça, o gol de empate aos 12 minutos. E, pouco depois, quando soube que o Bragantino foi às redes e empatou com o Vasco, resultado que rebaixava o time carioca e mantinha na Série A o Santos.
As informações foram positivas só no início da etapa final. Nenhum gol saiu mais na Vila Belmiro. Improdutivo, o ataque mal incomodou a zaga do Fortaleza. O Bahia fez o terceiro e o quarto e o Vasco, o segundo. Ambos ganharam e se livraram do rebaixamento. E o Fortaleza ainda marcou mais um, nos acréscimos, com Lucero. O gol só fez aumentar a ira da torcida, que soltou rojões do lado de fora e quebrou cadeiras nas arquibancadas.
Seguranças e policiais entraram no gramado para proteger os atletas, a maioria deles sentados no círculo central e incapazes de reagir diante do que fizeram – ou deixaram de fazer – na temporada. “Time sem-vergonha” foi o insulto mais leve que os atletas ouviram dos torcedores.
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